Tapetes

André Kondo

     O tuk tuk é um colorido triciclo adaptado com cobertura e banco para dois passageiros. Muito utilizado como táxi na Índia, suas três rodas simplesmente voam como um tapete mágico, pelo caótico trânsito das cidades indianas. Disputando espaço com vacas e pedestres, seu condutor sempre toma cuidado para não atropelar as vacas sagradas, não se importando tanto assim em relação aos mundanos humanos. Contratei um desses veículos para conhecer a cidade de Varanasi, que é considerada uma das cidades mais antigas e sagradas do mundo.

     Pedi ao piloto dessa exótica máquina me levar a Sarnath, onde o Buda pregou pela primeira vez. E lá fomos nós, enfrentando um trânsito de vacas, elefantes e até carros!

     Paramos.

    – Aqui é Sarnath? – perguntei desconfiado.

     – Não, senhor. Aqui é o mercado de tapetes. O senhor não quer aproveitar para comprar um tapete?

     – Não, obrigado – respondi, imaginando como seria carregar um tapete pelo mundo, uma vez que ainda viajaria por alguns meses até voltar para casa.

     – Tem certeza? Conheço alguém que faz um preço muito bom para os meus amigos.

     Fiquei imaginando se eu já era amigo do condutor de tuk tuk.

     – Não, obrigado. Prefiro ir direto para Sarnath.

     O piloto balançou a cabeça para os lados. E lá fomos nós.

     – Aqui é Sarnath? – perguntei, com a certeza de que não era.

     – Não, senhor. Aqui é uma lojinha de outro amigo meu. Tinha me esquecido dele! Ele vende tapetes mais baratos do que o preço de mercado. Não quer comprar um?

     – Não, obrigado.

     – É baratinho.

     Em todo lugar do mundo, o baratinho sempre tem uma comissão. Se o guia de uma excursão visita uma loja, geralmente ele leva uma pequena porcentagem do dinheiro que o turista deixou lá. Mas esse nem era o problema, o problema era que eu não queria comprar tapete algum.

     – Não, obrigado.

     O piloto balançou o turbante para os lados. E lá fomos nós.

     Buda já havia pregado em Sarnath, há dois mil e quinhentos anos, que tudo neste mundo é sofrimento. Comecei a acreditar nisso.

     Nem perguntei se era Sarnath.

     – Olha, o senhor ainda tem uma chance de comprar um tapete. Aqui…

     – Meu amigo, por favor, já disse que não quero comprar tapetes. Tudo o que desejo é apenas ir para Sarnath! E se o senhor me levar para mais uma loja de tapetes, nem sei o que farei, mas sei que não será algo bom.

     – Tudo bem, desculpe. Juro que não levo o senhor para outra loja de tapetes…

     Era Sarnath.

     Visitei os templos. Meditei. Senti uma paz profunda. E também me senti envergonhado por ter perdido a paciência com o condutor de tuk tuk. Pedi desculpas a ele e fomos embora.

     Antes de chegarmos ao nosso próximo ponto de peregrinação…

     Paramos.

     Fiquei com medo de ver outra loja de tapetes.

     – Senhor, não se preocupe. Prometi que não o levaria a outra loja de tapetes. Aqui é um museu e acho que o senhor vai gostar…

     Senti um pouco de culpa por ter duvidado do condutor de tuk tuk. Caminhei até a entrada do museu. Sim, era um museu, pois na fachada estava escrito: “Museu do Tapete”.

     Um sorridente bigodudo saiu para nos receber.

     – Bem-vindo ao Museu do Tapete! O senhor tem muita sorte! Somente hoje, e só hoje, todo o nosso acervo está à venda!



Crônica publicada no livro "Palavras de Areia" (2013)